quarta-feira, 19 de maio de 2010

Crônica

Eu sentia como se minhas mãos fossem agarrar aquele pescoço avermelhado... escureceu tudo ao meu redor... me contive pois a discussão nem era minha, na verdade eu nem conhecia os envolvidos, mas me tornei parte daquilo, eu verdadeiramente gostaria de conhecer aquele homem, ele precisava escutar um amigo. Algumas pessoas não entendem o significado da rejeição. Sentados duas poltronas a minha frente no ônibus, o casal discutia a relação, relativamente comportados e discretos. Eu, escutando meu MP3 player, até abaixei o som para tentar ouvir, mas nem assim conseguia entender a conversa. Ele a queria, ela o repudiava. Extremamente grosseiro e indelicado, ele a agarrava como urso de pelúcia e forçava um beijo que ela não queria dar. Este impasse ocorreu praticamente a viajem toda, o que mais ou menos ocorreu em 30 minutos, que para mim estavam se tornando uma hora e trinta minutos. Não sei se elogio a insistência do indivíduo ou se ignoro a maneira grudenta e sem nenhum tipo de romantismo que aquele ser desesperado demonstrava. Sim, era desespero que via nos olhos daquele ser, implorando algo que sabia não ser capaz de ganhar. Sei que fiquei com dores no estômago. Seja esta mulher como fosse, agora era minha heroína. Resistiu até o último minuto. Não caiu em tentação, decididamente o rejeitou até que ele se levantou, deu adeus tristonho, desceu no ponto e a deixou livre. Foi interessante como ela respirou aliviada quando ele saiu. Levantou a cabeça orgulhosa, amarrou os cabelos, ligou o rádio, se aconchegou espaçosamente no banco e sorriu. Desci no próximo ponto imaginando o que aquele rapaz havia feito de tão ruim assim para ser tratado daquele jeito. Senti pena dele e orgulho das mulheres firmes que conheci na vida, como esta.

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